sábado, janeiro 20, 2007

"As suas zonas erróneas"



E agora, é este o livro que me vai fazendo companhia. Este, leio devagar.

Cortar a levada....

Uma das situações abordadas no romance de João França, é a possibilidade de o comendador Bonifácio de Oliveira cortar uma levada, que irrigava os terrenos de uma família do Caniço, os Talaia, com o objectivo de construir uma fábrica de lacticínios.
O conflito acende-se. O José Talaia recusa a proposta de corte da levada, com a garantia de ter assegurada a compra do leite, uma vez que já o entregava numa cooperativa. O comendador mexe cordelinhos e ele acaba preso. Uns dias depois, o filho vai pedir explicações.
"- Quero saber onde está o meu pai.
- E vens perguntar-me a mim?
- Amecê deve saber. A culpa é d'amecê. Foi amecê que mandou a polícia levá-lo p'ra cidade. Há mais de oito dias.
Começa o comendador a enfurecer-se, não bem pelas perguntas feitas mas pelo tratamento de "amecê". Ele é senhor comendador ou então sua excelência, padrinho quanto muito, e nunca um "amecê qualquer. Levanta a voz, para admoestar:
-Não te admito faltas de respeito. Desaparece da minha vista! Depressa! - Volta-se para dentro e grita: - Rosa! Ó Rosa Sabina! Fecha a porta na cara desse atrevido! Anda, antes que me chegue a mostarda ao nariz.
(...)
Diz ele estar convencido ser o comendador o denunciante do pai, só porque entregava o leite a cooperativa e também por vingança à recusa do corte da água de rega. Mas a desgraça entrada em casa, onde a mãe morria de desgosto, não iria ficar sem mais nem menos. Ou o comendador fazia o pai regressar a casa ou então tem de ficar a saber quantos pães dava um alqueire, nem que ele, Quim Talaia, tivesse de passar o resto da vida na cadeia. Iria esperar mais um dia, dois no máximo, para ver o resultado. Depois, Nosso Senhor Jesus Cristo o ajudasse....
- Amecê já atremou o que eu disse?"

Uma Família Madeirense



"Uma Família Madeirense" é um romance de época, passado no Caniço, a minha freguesia. Gosto de ler João França e o prazer da leitura voltou a repetir-se também desta vez. Li rapidamente. Foi fácil imaginar os cenários, as situações. Adorei encontrar palavras madeirenses, de que tanto gosto. Recomendo.

Mapas para amantes perdidos

Terminei o livro já há bastante tempo. É um choque entrar naquela cultura muçulmana, vai-se lendo com incredulidade, com arrepios. De Kaubab, a mulher que insiste no cumprimento daquilo que lhe ensinaram, mesmo sem entender essas práticas, senti pena durante toda a leitura. Tudo aquilo é horrendo.
Depois fechei o livro, e percebi que há coisas semelhantes próximo de nós, na religião na qual crescemos. Mas aquilo que está perto não se vê tão bem como aquilo que está longe.
O livro é interessante, embora a tradução me tenha desiludido.