sexta-feira, setembro 14, 2007

A morte da avó

" (....)
Repeti: - Avó - e a mão agitou-se, sem eu saber o que significava isso quanto à eficácia das vozes e à existência dessa tal atenção que se reconduziria, etc. - Quer que chame o padre?
Sim, decerto: já expliquei. Ela frequentava o culto, mandava celebrar missas pelos seus mortos, confessava-se e comungava. (....)
A avó abre os olhos, e eu vejo uma nova luz áspera e gelada: a inteligência, uma energia que de repente recompõe todo o corpo e traz agora o retrato para o centro do tempo, tornando-o movimentado e audaz, completo. Nesse olhar progride agudamente um sorriso que o limpa da velhice e deixa o sal de uma fina malícia. Os lábios mexem-se, parecem brilhar um instante. O corpo renasce do próprio esgotamento. A avó diz:
- É tudo mentira....
(...)
pag. 134-135