quarta-feira, agosto 15, 2012

"A casa dos espíritos", Isabel Allende


Finalmente! Isabel Allende escreveu "A Casa dos Espíritos" em 1955 e só agora tive a oportunidade de ler este livro, de que gostei imenso.
Através da história de uma família - os Trueba - ficamos a conhecer os aspectos mais importantes da história do Chile desde a década de 20 até à decada de 70 do século passado, guiados por uma narrativa rica, em que os narradores se vão alternando, para tornar a história mais interessante, em virtude das diferentes perspectivas que nos transmitem.
Entre as muitas coisas de que gostei no livro, estão: o cabelo verde de Rosa, herdado por Alba, os espiritos que vaguevam na casa da família, as crises de silêncio de Clara, os remédios populares do velho Garcia, as excentricidades de Nicolau, o desencontro entre jaime e a rapariga que usava muitos colares e pulseiras, a arca das histórias do tio de que já não me lembro o nome, os encontros de Clara e Pedro na margem do rio, e as galinhas que esvoaçavam nos quintais de Las Tres Marias.
E de muito mais. De tudo.


quarta-feira, maio 30, 2012

"O Deus das Moscas", William Golding


Os clássicos são sempre os clássicos. Valem a pena. Não se devem deixar de ler. São livros obrigatórios.
Finalmente li "O Deus das Moscas", de William Golding. Um livro que nos leva a reflectir sobre o que é verdadeiramente o ser humano. Perturbador.

quinta-feira, março 29, 2012

"O filho de mil homens", Valter Hugo Mãe

Durante dois dias, enquanto li "O filho de mil homens", de Valter Hugo Mãe, chorei. O meu único desejo era este: ir ter com o Valter e dizer-lhe: "Estou aqui, também preciso de um destino. Arranja-me um, por favor".
É isso que o Valer Hugo Mãe faz neste livro maravilhoso: consegue arranjar para todos os personagens um destino. Mas não é um destino qualquer. Ele consegue arranjar-lhes um destino em que cada um deles consegue fazer mais felizes as pessoas que estão à sua volta, e ao mesmo tempo consegue também ser mais feliz do que era antes.
Chorei.
E para mim não haverá um destino?
É precisamente isto que os livros devem fazer às pessoas. Os livros não devem passar pelas pessoas e deixá-las como se nada fosse. As pessoas, quando lêem um livro mesmo um livro de verdade, têm de ficar diferentes.
Valter, arranjas-me também um destino?

segunda-feira, setembro 05, 2011

"Um dia na Madeira", Paolo Mantegazza

O meu grande interesse pela cultura e pela história da Madeira leva-me a ler "Um dia na Madeira", do italiano Paolo Mantegazza, numa tradução de Laura Moniz.
É um livro que nos conduz a outro universo, tanto ao nível da linguagem, excessivamente romântica, como da história, feita de amores impossíveis e dores imensas e infinitas tristezas. O meu principal foco de interesse são as referências à Madeira e nesse aspecto não me decepciono.

sábado, maio 28, 2011

"Dama de Espadas", Mário Zambujal

(....)
Num fim de tarde de sábado, sentados na zona clara do armazém, com dois copos de vinho branco sobre uma restaurada mesa de duzentos anos, Rodolfo Lucas Tirou-me o convite inesperado:
- Você, Filipe, seria a pessoa indicada para fazer um pouco de companhia à minha filha Rosália. Ela é moça educada e bonitinha, o problema é que passa os dias retraída, metida consigo, quase não fala com ninguém. O contrário da irmã, a pequenita Eva Teresa, uma vivaça que enche a casa de animação. O que me diz? (pag. 14)

Uma leitura fluída, engraçada, narrada na primeira pessoa, mas quase jornalística. Uma boa escolha.

sexta-feira, abril 08, 2011

"Efeito Borboleta e outras histórias", de José Mário Silva

Eis o livro que agora me segue para todo o lado. Os contos são muito pequenos, do tamanho que eu sempre quis para os contos que ainda não escrevo. Alguns ocupam uma ou duas páginas, apenas. Mas dizem tudo. Esta economia de palavras que, no entanto, dizem tudo o que havia para dizer, fascina-me.
Estou a gostar muito.

segunda-feira, novembro 08, 2010

"Estorvo", Chico Buarque


O novo livro que tenho em mãos. Li apenas duas páginas, e gostei. Veremos.

sexta-feira, outubro 01, 2010

"Um país para lá do azul do céu", Susana Tamaro

Um livro que me veio parar às mãos por acaso. Uma leitura não programada. Uma surpresa.
Já conhecia a escrita de Susana Tamaro, mas voltei a deliciar-me com esta leitura. Todos os contos falam de gente em terras estranhas. Emigrantes ilegais, arriscando a vida por uma oportunidade. Culturas em choque; conhecimentos e comportamentos incompreensíveis para um lado e para o outro. E uma criança negra, um menino africano, adoptado por um casal europeu. Um drama feito de sonhos, suposições e incompreensões, com um desfecho trágico.
Gostei muito.

sexta-feira, abril 23, 2010

"A ordem natural das coisas", de António Lobo Antunes

Abro um novo livro devagar. Escolhi António Lobo Antunes. Escolhi "A ordem natural das coisas" e sorvo as palavras novas devagarinho. Devagarinho entro noutro mundo. E gosto.

sábado, outubro 10, 2009

"A misteriosa chama da Rainha Loana", Umberto Eco

Leio o romance ilustrado "A Misteriosa Chama da Rainha Loana", de Umberto Eco. E estou a gostar muito, muito, muito. A memória é um território fascinante.

segunda-feira, outubro 05, 2009

meu querido amor da minha vida

(...) "E assim a trato, pela última vez, de meu querido amor da minha vida, sem desespero, sem violências passionais, sem a voz embargada, sem recriminações, sem pressões de qualquer espécie, exausto e sem quaisquer expectativas, mas com a total, desolada e solitária naturalidade de esse amor ter sido verdade, a verdade mais funda, mais abaladora, mais importante e mais decisiva da minha vida, e procurando fazê-lo também sem saudades lancinantes, o que me está a custar os olhos da cara, não lho escondo.
Aliás, digo "ter sido" só para preparar o terreno, porque estas coisas levam muito, muito tempo, não são fáceis nem rápidas de descartar e implicam uma cirurgia muito dolorosa e aplicada fibra a fibra. Só quero rasurá-la da lembrança, de todas as lembranças do que poderia ter-me sido mais caro e mais essencial." (...)
pag. 173-174

quarta-feira, agosto 12, 2009

"Meu amor, era de noite", Vasco Graça Moura

Vasco Graça Moura já publicou 60 livros e eu nunca tinha lido nenhum, apenas poemas dispersos.
Quando me apercebi disto, achei imperdoável, afinal não se pode ter opinião sem conhecer, e foi assim que comprei este romance.
A verdade é que não estou a gostar.
Posso apenas ter escolhido mal. Posso não estar nos meus dias. Não sei. Mas sei que não estou a gostar. É ligeiro. Estou quase a meio e ainda não retirei nada da leitura. Apetecia-me já ter acabado porque eu detesto deixar livros a meio.
Será porque ele começa uma frase por "às tantas..."? Será porque os amantes se tratam por "você"?
Obviamente que ele escreve bem, isso não está em causa. Mas...não estou a gostar de ler "Meu amor, era de noite".

sexta-feira, julho 10, 2009

mais de um século

Como é que que um livro escrito um século antes de eu ter nascido pode ser uma leitura tão agradável? Este é o mistério que torna alguns livros eternos.

sexta-feira, maio 08, 2009

"O jogador", Fiodor Dostoievsky

Eis o livro que hoje começo a ler. Tenho a impressão de que vou gostar.

sexta-feira, maio 01, 2009

..um duplicado do nosso própio problema

"Ser amado por uma pessoa é apercebermo-nos de que essa pessoa partilha as nossas necessidades, a satisfação das quais nos empurrou para ela. Albert Camus sugeriu que nos apaixonamos por pessoas porque, de fora, nos parecem em ordem, fisicamente em ordem e emocionalmente "organizadas", quando nós próprios nos sentimos dispersos e confusos. Não amaríamos se não sentíssemos em nós uma falta qualquer, mas, paradoxalmente, enfurece-nos verificar que há uma falta semelhante no outro. Cheios de esperança de encontrar uma resposta, encontramos, afinal, um duplicado do nosso próprio problema."

"Ensaios de Amor", p.56

segunda-feira, abril 06, 2009

uma confirmação permanente do eu

(....)
2. Talvez seja verdade que não existimos enquanto não houver quem veja que nós existimos, que não falamos enquanto não houver quem ouça o que estamos a dizer, no fundo, que não estamos completamente vivos enquanto não formos amados.

3. O que significa "o homem é um animal social"? Apenas que os seres humanos precisam dos outros para se definir e conhecer a si próprios, ao contrario dos moluscos e das minhocas. Não podemos ter uma noção correcta de nós próprios se não existirem outros para nos mostrarem como somos. "Um homem pode alcançar tudo na solidão, excepto um carácter", escreveu Stendhal, sugerindo que o carácter tem a sua génese nas reacções dos outros a nós próprios. Como o "eu" não é uma estrutura integrada, a sua fluidez requer os contornos fornecidos pelos outros. Precisamos dos outros para nos sentirmos completos, de alguém que nos conheça tão bem como nos conhecemos a nós próprios ou melhor ainda.

4. Sem amor, perdemos a capacidade de possuir uma identidade própria; com amor, há uma confirmação permanente do eu. Não admira que o conceito de um Deus que nos observa a todos seja central em muitas religiões: sermos vistos significa que existimos e tanto melhor se o observador for Deus ou alguém que nos ama. (....)

"Ensaios de amor", pag. 112

segunda-feira, março 30, 2009

"Ensaios de Amor", Alain de Botton

Graças a este livro, consegui perdoar-me por ter lido o anterior. É verdadeiramente um bom livro. Recomendo. Gostei muito. Obriga a pensar. Tem tudo o que deve ter um Livro.

domingo, março 01, 2009

"p.s. - eu amo-te", Cecília Ahern

Minha culpa, minha culpa, minha culpa....Mas uma coisa é certa: foi uma vez sem exemplo...Não gosto e ponto final. Não voltam a apanhar-me a ler coisas deste género.
Quis dar o benefício da dúvida e decidi ler o livro por respeito para com a pessoa amiga que mo ofereceu com as melhores das intenções.
Cada página foi um sacrifício. Só pensava: quem é que não escrevia isto? Uma simples descrição de factos e situações...qualquer pessoa consegue escrever.

terça-feira, fevereiro 03, 2009

Um pensamento amargo

"Tenho na minha frente as torres e fortificações de Toledo, antiga capital de Espanha. Situa-se no topo de uma elevação para lá da ravina e acabo de decidir tomar apontamento de todos os acontecimentos importantes da minha vida. Para que as pessoas fiquem a saber o que eu passei.
Mas quem se interessará o suficiente para ê-los? Estou provavelmente a perder o meu tempo. Que diferença faz? Os homens não são irmãos mas sim descomnhecidos que não estão nada interessados nas histórias particulares uns dos outros. Ninguém dá um tostão furado por ninguém.

Mark Niven tinha catorze anos quando escrveu isto na primeira pági d seu diário e o que quis dizer foi exactamente o que escreveu, pois nunca mais lhe acrescentou uma linha.
O diário propriamente dito é um livro pesado, encadernado a marroquim azul, com uma espada gravada a folha deouro na capa. Obviamente, deve ter achado que era objecto demasiado caro para se deitar fora."

p. 11,início de "O milionário inocente", de Stephen Vizinczey

domingo, fevereiro 01, 2009

"O milionário inocente", Stephen Vizinczei

Um romance fabuloso. Adorei. E recomendo.

terça-feira, janeiro 20, 2009

A casa do general...

(...)
"A casa do general ficava situada no alto de um rochedo muito íngreme. Só havia uma maneira de subir o rochedo - era preciso descer. " p. 15

Assim também é muitas vezes na vida. O percurso não é em linha recta. Para subir é preciso descer. E por vezes desce-se porque se subiu.

O livro é uma metáfora e eu sempre gostei de metáforas.

segunda-feira, janeiro 19, 2009

"Ao encontro do general", Ana Rodrigues

Comprei este livro porque simpatizei com a autora. Gostei da forma como se exprimia. Gostei das palavras que usava para tentar descrever o porquê da sua aventura pela escrita. Gostei e comprei o livro. Acho uma razão válida, ou não?

sábado, novembro 01, 2008

"O estrangeiro", Albert Camus

Começa assim:
"Hoje, a mãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um telegrama do asilo: "Sua mãe falecida. Enterro amanhã. Sentidos pêsames." Isto não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem.
O asilo de velhos fica em Marengo, a oitenta quilómetros de Argel. Tomo o autocarro das duas horas e chego lá à tarde. Assim, posso passar a noite e velar e estou de volta amanhã à noite. Pedi dois dias de folga ao meu patrão e, com uma razão destas, ele não mos podia recusar. Mas não estava com um ar muito satisfeito. Cheguei mesmo a dizer-lhe: "A culpa não é minha." Não respondeu. Pensei então que não devia ter dito estas palavras. A verdade é que eu não tinha de me desculpar. Ele é que tinha de me dar os pêsames. Mas com certeza o fará, depois de amanhã, quando me vir de luto. Por agora, é um pouco como se a mãe não tivesse morrido. Depois do enterro, pelo contrário, será um caso arrumado e tudo passará a revestir-se de um ar mais oficial."

E eu envergonho-me por dentro e pergunto-me e fico atrapalhada por não saber responder. Porque é que eu ainda não tinha lido nada do Albert Camus?

quarta-feira, outubro 15, 2008

Um

"Lá pelas onze, como todas as noites, Camargo abre as cortinas do seu quarto na Calle Reconquista, coloca a poltrona a um metro de distância da janela para que a penumbra o proteja e espera que a mulher entre no seu ângulo de visão. Às vezes passa como um lampejo pela janela da frente e desaparece na casa de banho ou na cozinha. Do que ela mais gosta, no entanto, é de parar diante do espelho do quarto e despir-se com suprema lentidão. Camargo pode, então, contemplá-la à sua vontade. Há muitos anos, num teatro de variedades de Osaka, viu uma bailarina japonesa despojar-se do quimono de cerimónia até ficar completamente nua. A mulher da frente tem a mesma elegância altiva da japonesa e repete as mesmas poses de fingido assombro, mas os seus movimentos são ainda mais sensuais. Inclina a cabeça como se tivesse perdido alguma lembrança e, depois de passar a ponta dos dedos por baixo dos peitos, lambe-os com delicadeza. Para não perder nenhum detalhe, Camargo observa-a através de um telescópio Bushnell de sesseta e sete centímetros que está montado num tripé." (p. 9)

Começa assim. "O voo da raínha", de Tomás Eloy Martínez

quinta-feira, outubro 09, 2008

"O voo da rainha", de Tomás Eloy Martinez

Um livro que me prendeu do início ao fim, do primeiro ao último instante. Tomás Eloy Martinez é um autor argentino de quem nunca tinha ouvido falar. Comprei o livro um pouco ao acaso, durante um curto período de férias no Porto Santo e li-o em dois dias. A história tem como cenário a comunicação social, mas a história vai muito além. É uma história de obsessão, de voyeurismo, uma história contada de uma forma intensa, em que o leitor por vezes parece partilhar os segredos do enredo mas depois é apanhado totalmente de surpresa.
Recomendo.

terça-feira, setembro 30, 2008

Caminhos perdidos na madrugada

Porque razão ficamos às vezes com os livros guardados muito tempo antes de os lermos? Não sei. Tenho este livro desde 2001, ainda por cima com um autógrafo do próprio autor, e só agora o li. E que agradável surpresa! Um romance muito bem escrito. Um tema muito interessante. Prendeu-me desde o início ao fim. Ao Costa Monteiro, resta-me pedir desculpa pela demora e agradecer os bons momentos de leitura.

terça-feira, setembro 16, 2008

Do grande e do pequeno Amor

Uma experiência que nos deixa com um sorriso nos lábios e a recordar as fotonovelas de antigamente.

domingo, setembro 07, 2008

"O maior tesouro dos portugueses", Manuel Pais

O Manuel Pais também escreveu no DN-Jovem, tal com eu. (Que saudades desse tempo, que saudades da espera semanal pelo DN das terças-feiras para ver se lá vinha o texto que enviara, ou ao menos uma resposta em letras pequeninas, escrita no final do caderno Jovem.) Alguns anos depois de ter deixado de colaborar, por imperativos da idade, e quando o Dn - Jovem já só existia na net, e por isso já não era a mesma coisa, cruzei-me com o Manuel Pais no mundo virtual e trocámos por correio aquilo que tínhamos escrito. "O Maior tesouro dos portuguese" ficou na estante à espera e li-o agora. De início, li com estranheza mas depois fui-me habituando à linguagem e acabei agarrada ao livro, e atenta aos inúmeros jogos de linguagem, quase em cada linha há um. O Manuel Pais brinca com as palavras e com os seus muitos sentidos e sentidos próximos e sentidos duplos. Para ele, a escrita parece um jogo de brincar às palavras e aos sentidos das palavras. A escrita é um jogo. E eu gostei.

quarta-feira, agosto 06, 2008

"Contos desaparecidos", João Aguiar

Gostei. Especialmente do conto mais irónico de todos. A ironia, quando é bem abordada, é fabulosa.

sexta-feira, junho 06, 2008

Vencedor Vencido

Estive a ler este livro, que me foi oferecido pelo próprio autor. Embora escrito na terceira pessoa, narra a saga do próprio autor como emigrante na Suécia, onde chegou como refugiado político durante o tempo da ditadura salazarista. Num português correcto, o autor não se limita a narrar os acontecimentos, também demonstra capacidade reflexiva, filósófica, e uma visão cultural e histórica bastante interessante.
A Suécia não é um dos países tradicionais da emigração madeirense; é uma cultura completamente diferente e o autor consegue mostrar bem as dificuldades de adaptação a uma sociedade em tudo tão oposta, mas onde foi possível vencer. A força de vontade acaba por ser, sempre, o que mais pesa.

quarta-feira, abril 02, 2008

um pedaço de neve que derretia

"E Rosa percebeu de repente que se estavam a passar coisas no jardim, um pedaço de neve que derretia e escorregava de uma árvore, uma nuvem que escondia o sol e transformava tudo por instantes, a mão da miúda cheia de neve com a qual ela fazia uma bola que depois pousava no chão ao seu lado."

Pag.66

Leio. Leio. Leio devagar, fascinada. Parece que consigo tocar em cada floco de neve, e ouvir cada rumor, e sentir toda a estranheza de tudo. E andar no jardim misterioso e entrar na casa e ver a miúda que nunca tem frio e parece que mais ninguém vê. Escrever é isto.

terça-feira, abril 01, 2008

uma leve impressão de felicidade

"Gostava de acordar no seu quarto todas as manhãs. Uma leve impressão de felicidade no ar, como um cheiro a flores, ou a neve, em tempos imaginara que a neve tinha cheiro.
Havia qualquer coisa naquela casa que a fazia lembrar-se de livros infantis, os longos corredores e os quartos fechados, os degraus, tinha de subir três degraus para entrar em alguns quartos, e claro, tinha de descer cinco para entrar na cozinha, a cozinha de livros e de crianças, descobrira ao fundo uma porta que dava para uma cave."

pag 55

beleza assombrada

Michael, ele chamava-se Michael, e era de uma beleza assombrada, com qualquer coisa de terrível.
O princípio do terrível, murmurou.
Lembrou-se do longo passeio pelas ruas mal iluminadas, da miúda de pernas compridas que agora lhe parecia um fruto da sua imaginação. Mas não era importante.
Talvez a miúda fosse um fantasma, mas trouxera-a para um lugar chamado Jamaica Inn. Rose teve um arrepio de prazer. Estava num lugar chamado Jamaica Inn e ia enocntrar-se com um homem que ra descendente de piratas, que talvez fosse violento, gostava de homens violentos.

pag. 43

segunda-feira, março 31, 2008

fazer nevar...

"Chamo-me Michael, disse ele.
E ela pensou, não é um anjo caído, é um dos outros, de qualquer forma é muito velho, quase tanto como eu.
Era uma das ideias estranhas que tinha às vezes, a de que existia desde sempre, e era capaz de fazer chover, e fazer nevar, era uma dessas ideias que tinha muito tarde, quando começava a ficar com sono, e que no fundo só queria dizer que ela escrevia livros, e só pode escrever livros quem existe há muito tempo e ainda se lembra, pelo menos vagamente." Pag.36

Leio o livro quase de um fôlego só, sem conseguir respirar, sentindo também que existo há muito tempo, e de que me lembro. Vagamente.

domingo, março 23, 2008

no nevoeiro e na chuva

"E quando a solidão se tornava insuportável, ele apareceu. Na verdade fui eu que o procurei, sem saber o que fazia, no nevoeiro e na chuva, perto do mar. Há muito tempo, quando o Inverno começava." Pag. 15

"A Neve", Ana Teresa Pereira

então delicio-me na escolha de um livro. escolho ler um livro pelos melhores motivos. folheio-o e escolho-o com a alma.

Um pouco de "Intuição"

- "Das sombras irreais da noite regressa a vida real que outrora conhecemos" - lia - "temos de recomeçar onde parámos, e eis que acima de nós se agita a terrível necessidade de continuar a despender energia na mesma fatigante sucessão de hábitos estereotipados ou um incontrolável anseio, talvez, de numa manhã abrir os olhos para um mundo que durante a noite foi remodelado para nosso deleite, um mundo no qual as coisas teriam novas formas e cores, e mudar..."
Fechou ruidosamente O Retrato de Dorian Grey, abriu a centrigugadora e retirou os seus tubos de ensaio coloridos. Como era estranho ficar-se cansado do mundo por falta de mudança. Por si, Feng sempre gostara de se levantar pela manhã e envcontrar tudo do mesmo modo como o deixara. Sempre apreciara em particular o facto de os objectos, por mais impacientemente que os procurássemos, não se poderem levantar e moverem-se espontaneamente de um lado para o outro. Havia uma tal satisfação no facto de os nossos livros e chaves estarem frequentemente no mesmo sítio onde os deixávamos. Perguntou-se, rindo de si mesmo, como lhe era característico, se não se dedicava a um trabalho de bancada, pelo facto de apreciar esse tipo de ordem mundana. Ele nunca veria encanto na investigação. (....) pag. 362

Acabei o livro que decidi ler com base talvez no critério mais estúpido para se começar a ler um livro: o de o termos à mão, não por nossa escolha, mas porque calhou de vir ter connosco, sem que o desejássemos ou quiséssemos ou sequer tivéssemos a mínima curiosidade. Mas tudo tem um lado positivo. Aprendi que esta não é a forma de escolher, seja em que momento for, ler seja o que for. Aprendi que não voltarei a fazê-lo.
Não, o livro não está mal escrito. Nem mal escrito nem mal traduzido. O romance está bem encadeado, como devem estar os romances, está. Mas este livro não tem absolutamente nada que me fale à alma. E isso sim. Isso é algo que todos os livros devem ter. Uma linguagem oculta que comunique com a nossa alma.

sábado, março 08, 2008

Intuição, Allegra Goodman

Eis a minha actual leitura. Um livro que me veio parar às mãos por mero acaso e que decidi abrir e começar a ler também por mero acaso. E assim, de acaso em acaso, cheguei à página 153.

sexta-feira, novembro 30, 2007

eram as estrelas





eram as estrelas, caminhante,
o mapa que não soubeste decifrar
mas vais continuar e continuar
perdido para sempre.


José Luís Peixito, in "A criança em ruinas"


Precisava de ler poesia. Precisava, urgentemente, de ler um poema que me fizesse chorar. Precisava.

terça-feira, novembro 20, 2007

Causas

"As causas aparentemente perdidas, trazem sempre alguns bons resultados...."(....)

pag. 258

quinta-feira, novembro 01, 2007

Reconhecimento

(...)

"Foi em Accra, um homem passou por mim na rua e voltou-se. Whaila. E foi como se nos reconhecessemos um ao outro."

Um Capricho da Natureza, pag. 202

sexta-feira, outubro 05, 2007

Um Capricho da Natureza, Nadine Gordimer

É a segunda vez que leio da Nadine Gordimer. A primeira coisa que li foi uma short story em inglês, matéria obrigatória quando fiz o meu curso de Línguas e Literaturas Modernas.
Tantos anos depois, comecei a ler "Um Capricho da Natureza" quase por acaso. Estava de férias no Porto Santo e apetecia-me ler, sabe tão bem estar de férias e andar agarrada a um livro.
Perguntei onde era a livraria, mas estava fechada nessa hora e no dia seguinte também não foi possível lá ir, já não sei porquê. Foi assim que acabei comprando um livro na Estação dos Correios. A escolha era pouca e quando dei por mim estava já na rua com este livro na mão. Tem quase 400 páginas (397, para ser mais precisa) e as linhas são demasiado juntas para o meu gosto. Mas está muito bem escrito e foi sem dificuldade que cheguei à parte onde vou agora, na página 176.

"(...) De início ela viu apenas as borboletas, uma profusão de borboletas que faziam vibrar o ar tranquilo e denso. Havia também flores brancas a transbordar de perfume. Hillella mergulhou nelas o rosto, como as borboletas também faziam. A selecção competitiva da natureza - árvores lustrosas e vorazes que tinham matado à fome os arbustos próximos abrindo espaços de ervas e plantas mais pequenas; trepadeiras e lianas devorando as outras árvores que haviam cometido o erro de nascer demasiado perto - dera origem ali a uma espécie de jardim; ou seria talvez efeito de uma recomposição humana da natureza, uma intervenção muito antiga, mas ainda precariamente identificável sob a forma natural da vegetação, como as linhas de uma cidade perdida que se distinguem do alto de um avião em pleno voo.(...)"

Hillela é a personagem principal. Ela é o tal "capricho da natureza", a que se refere o título.

sexta-feira, setembro 14, 2007

A morte da avó

" (....)
Repeti: - Avó - e a mão agitou-se, sem eu saber o que significava isso quanto à eficácia das vozes e à existência dessa tal atenção que se reconduziria, etc. - Quer que chame o padre?
Sim, decerto: já expliquei. Ela frequentava o culto, mandava celebrar missas pelos seus mortos, confessava-se e comungava. (....)
A avó abre os olhos, e eu vejo uma nova luz áspera e gelada: a inteligência, uma energia que de repente recompõe todo o corpo e traz agora o retrato para o centro do tempo, tornando-o movimentado e audaz, completo. Nesse olhar progride agudamente um sorriso que o limpa da velhice e deixa o sal de uma fina malícia. Os lábios mexem-se, parecem brilhar um instante. O corpo renasce do próprio esgotamento. A avó diz:
- É tudo mentira....
(...)
pag. 134-135

quinta-feira, setembro 13, 2007

Os Passos em Volta, Herberto Helder

Parece absurdo, como alguns dos mais belos textos deste livro, eu sei que parece assombrosamente absurdo, mas leio Herberto Helder deitada na cama e doente. Não encontro explicação para esta minha escolha, precisamente num dia em que me sinto tão mal.
Mas porque é que tudo deve ser explicável? Não deve.

"Era um cão que tinha um marinheiro. O cão perguntou à esposa, que se pode fazer com um marinheiro? Põe-se de guarda ao jardim, respondeu ela. - Não se deve deixar um marinheiro à solta no jardim, que fica perto do mar. Um marinheiro é uma criatura derivada por sufixação, e pode recear-se o poder do elemento de base: o radical mar. Em vez de guardar o jardim, ele acabaria por fugir para o mar. - Deixá-lo fugir, disse a esposa do cão. Mas ele não estava de acordo. Que um facto deveria ser esse mesmo facto até ao limite do possível: quem possui um marinheiro para guardar o jardim deve procurar mantê-lo a todo o custo, assim como o cão, ou o casal de cães, que não tiver um marinheiro deve não tê-lo até a isso ser absolutamente forçado. - Nesse caso, só nos resta ir para uma terra do interior, longe do mar, disse a cadela. E então foram para o interior, levando pela trela o marinheiro açaimado. Durante o percurso viram muitas paisagens. O marinheiro estava espantado com as paisagens que podem existir longe do mar. Fez diversas observações a esse respeito, provocando o risonho latido dos cães que, pela sua parte, concordavam em que tinham um marinheiro muito inteligente. - Nem todos os cães têm a nossa sorte, disse o cão, pois conheço vários cães que são donos de vários marinheiros estúpidos. Iam por isso bastante contentes e diziam, a outros cães com quem se cruzavam, que possuiam um marinheiro invulgarmente esperto. - Ele tem uma filosofia das paisagens, dizia o cão. (....)" Pag. 126

O resto? Leiam. A escrita e a leitura e as palavras e as histórias têm um significado diferente depois de ler talvez o melhor escritor português da actualidade. Eu digo talvez porque é só a minha opinião. Apenas por isso.

segunda-feira, setembro 10, 2007

no lado esquerdo da alma

Leio Mário de Sá Carneiro, num dos meus habituais intervalos para ler poesia.
Devagar. É assim que leio.
Saboreando as palavras. Entrando nelas e demorando-me em cada uma, num ritual antigo e novo. Sempre.

Além-Tédio

Nada me expira já, nada me vive -
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.

Como eu quisera, enfim d'alma esquecida,
Dormir em paz num leito d'hospital...
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.

Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-novo, fui-me Deus
No grande rastro fulgo que me ardia.

Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu...Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!

Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.

E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios...

Paris, 15 de Maio de 1913

quarta-feira, setembro 05, 2007

A Chuva Pasmada, Mia Couto


Sei que hei-de ficar sempre pasmada. Sempre que tiver à minha frente a escrita mágica de Mia Couto. Sempre.

"Não era tristeza. Era um vazio. Os tristes têm um céu. Cinzento, mas céu. Os desesperados têm um deserto. Meu pai olhava para trás: era mais o esquecido que o vivido. O que não lembrava era porque se esquecera de viver? Ou tudo tinha ficado lá, na mina que desmoronou? Quando se cruzava comigo, de pijama, a meio do dia, meu pai se justificava:
- Sua mãe quer que eu faça dessas coisas que criam alma na pessoa. Só que ela não entende: se eu estou vivo é porque não tenho alma nenhuma.
E agora, olhando-o sob aquele estilhaçado luar, me pareceu que meu pai não era senão poeira entre poeiras de Lua." (pag. 15)

Sem palavras outras. Estas são tudo.

segunda-feira, junho 18, 2007

Os Demónios à Minha Porta, José Manuel Fajardo

Vou aqui, exactamente:

"Estava parado diante da porta da minha tumba. Tinha a respiração agitada porque há muito que caminhava, mas não estava cansado. Simplesmente não queria recordar mais. Perguntava a mim próprio por que não vinham agora os meus demónios interromper-me, por que não se abria a portinhola do postigo como em tantas outras ocasiões e entrava por ela o medo, resgatando-me da memória. Por uma vez seria bem recebido. Mas não aconteceu nada. O silêncio era apenas perturbado pelo som da minha respiração e pelo assobio que, desde há alguns dias, ressoava de vez em quando nos meus ouvidos, como se fosse a música da minha angústia. Aproximei-me da porta e encostei a orelha á madeira. Ao princípio não ouvia nada. Depois, julguei ouvir os latidos longínquos de um cão, quase imperceptíveis, que pareciam vir do centro da Terra, como se fosse o próprio Cérbero ladrando à entrada dos Infernos. Seria outra ilusão dos meus ouvidos? Os latidos cessaram e, novamente, não se ouvia mais do que o som dos meus obstinados pulmões, empenhados em manter-me vivo apesar de me encontrar no reino dos mortos. O ligeiro ranger de um objecto a ser deslocado sobressaltou-me. Ouvira-o com toda a nitidez, no outro lado da porta. " (Cap. 9, pag. 139)

A Ignorância, Milan Kundera

"O regresso, em grego, diz-se nostos. Algos significa sofrimento. A nostalgia é portanto o sofrimento causado pelo desejo insatisfeito de regressar. Para esta noção fundamental, a maior parte dos Europeus pode utilizar uma palavra de origem grega (nostalgia) e, além disso, outras palavras com raízes na sua língua nacional: añoranza, dizem os Espanhóis; saudade, dizem os Portugueses. Em cada língua, estas palavras possuem um matiz semântico diferente. (....)" (p. 7)

sexta-feira, maio 18, 2007

O Insecto e outras histórias de mães e filhas, Claire Castillon

"Ele espera-a no corredor. Espreita a hora do banho dela enquanto eu faço o jantar. Isto dura há duas ou três semanas, ele reagiu estranhamente ao ver o pequeno soutien dela a secar com a nossa roupa interior no estendal da banheira. Perguntou-me porquê, e eu expliquei-lhe que era bom começar cedo, habituar-se depressa a usá-lo, assim que os seios começam a despontar. Ele ficou ali, a tocar nas alças e ao de leve nas caixas, depois abriu o armário dos remédios e tirou uma embalagem de desodorizante, disse que ia oferecer-lho para participar, também ele, naquela pequena transformação." (pag. 13)

Começa assim o conto que dá nome ao livro de Claire Castillon que acabo de ler, movida por mais um dos muitos acasos em que se vão tecendo os meus dias.
Todo o livro é assim: sem uma única palavra que esteja a mais, todas elas no sítio certo, às vezes assustador, demasiado cru, contido e excessivo ao mesmo tempo, chocante sobretudo Nenhum final deixa de surpreender.
Vale a pena.

segunda-feira, abril 16, 2007

A Fotografia

Gostei de ler. Gostei porque foi uma leitura partilhada. Foi por isso.

sábado, março 24, 2007

O último cabalista de Lisboa

O livro que levo na mala ;)

segunda-feira, março 19, 2007

O sábio e o imperador

Lavanto-me, vou até à estante e pego num qualquer livro. Ao acaso. Gosto de fazer isto de vez em quando.

"Na antiga China vivia um imperador que observava dia após dia os seus súbditos com a amior atenção. Através de uma das janelas do palácio via os palafreneiros trabalhar com os cavalos, os soldados treinando-se no manejo das armas, os jardineiros cultivando cuidadosamente o jardim. Através de outra janela contemplava o mercado da Capital, Lo-Yang, e interessava-se pelo relacionamento entre as pessoas: compradores, vendedores, os que ganhavam, os que perdiam.
E, à tarde, ficava a ver o varredor limpar a praça quando todos já tinham ido embora...
Dia após dia observava, mas, quanto mais observava, quanto mais escutava, menos entendia." (pag. 5)

sábado, janeiro 20, 2007

"As suas zonas erróneas"



E agora, é este o livro que me vai fazendo companhia. Este, leio devagar.

Cortar a levada....

Uma das situações abordadas no romance de João França, é a possibilidade de o comendador Bonifácio de Oliveira cortar uma levada, que irrigava os terrenos de uma família do Caniço, os Talaia, com o objectivo de construir uma fábrica de lacticínios.
O conflito acende-se. O José Talaia recusa a proposta de corte da levada, com a garantia de ter assegurada a compra do leite, uma vez que já o entregava numa cooperativa. O comendador mexe cordelinhos e ele acaba preso. Uns dias depois, o filho vai pedir explicações.
"- Quero saber onde está o meu pai.
- E vens perguntar-me a mim?
- Amecê deve saber. A culpa é d'amecê. Foi amecê que mandou a polícia levá-lo p'ra cidade. Há mais de oito dias.
Começa o comendador a enfurecer-se, não bem pelas perguntas feitas mas pelo tratamento de "amecê". Ele é senhor comendador ou então sua excelência, padrinho quanto muito, e nunca um "amecê qualquer. Levanta a voz, para admoestar:
-Não te admito faltas de respeito. Desaparece da minha vista! Depressa! - Volta-se para dentro e grita: - Rosa! Ó Rosa Sabina! Fecha a porta na cara desse atrevido! Anda, antes que me chegue a mostarda ao nariz.
(...)
Diz ele estar convencido ser o comendador o denunciante do pai, só porque entregava o leite a cooperativa e também por vingança à recusa do corte da água de rega. Mas a desgraça entrada em casa, onde a mãe morria de desgosto, não iria ficar sem mais nem menos. Ou o comendador fazia o pai regressar a casa ou então tem de ficar a saber quantos pães dava um alqueire, nem que ele, Quim Talaia, tivesse de passar o resto da vida na cadeia. Iria esperar mais um dia, dois no máximo, para ver o resultado. Depois, Nosso Senhor Jesus Cristo o ajudasse....
- Amecê já atremou o que eu disse?"

Uma Família Madeirense



"Uma Família Madeirense" é um romance de época, passado no Caniço, a minha freguesia. Gosto de ler João França e o prazer da leitura voltou a repetir-se também desta vez. Li rapidamente. Foi fácil imaginar os cenários, as situações. Adorei encontrar palavras madeirenses, de que tanto gosto. Recomendo.

Mapas para amantes perdidos

Terminei o livro já há bastante tempo. É um choque entrar naquela cultura muçulmana, vai-se lendo com incredulidade, com arrepios. De Kaubab, a mulher que insiste no cumprimento daquilo que lhe ensinaram, mesmo sem entender essas práticas, senti pena durante toda a leitura. Tudo aquilo é horrendo.
Depois fechei o livro, e percebi que há coisas semelhantes próximo de nós, na religião na qual crescemos. Mas aquilo que está perto não se vê tão bem como aquilo que está longe.
O livro é interessante, embora a tradução me tenha desiludido.

quarta-feira, novembro 15, 2006

"De quantas mãos preciso...?"

"De Quantas Mãos Preciso para Te Declarar o Meu Amor?"

Título do capítulo com início na página 435 de "Mapas para amantes perdidos."

terça-feira, outubro 17, 2006

A dívida do leite

"(....) Filhos e filhas, ao saberem que a mãe está às portas da morte, devem colocar-se imediatamente a seu lado para lhe pedirem que considere saldada a dívida que têm para com ela, a dívida que contrairam ao beberem o seu leite. É um privilégio e um direito que ela tem. Não há nada mais terrível para alguém que acabar de perder a mãe durante a sua ausência do que saber que ninguém lhe pergunatra se ela lhe perdoava a dívida do leite; deve-se implorar-lhe que lhe retire este enorme peso da alma. Não imagino os meus filhos a tomarem tal atitude quando a minha hora estiver próxima. Talvez Alá esteja a castigar-nos por termos deixado os nossos próprios pais no Paquistão e vindo viver para Inglaterra há tantos anos atrás."

(p. 226)

sábado, outubro 14, 2006

sacos cheios de fezes

(....)
"O clérigo da mesquita aconselhara os rapazes a manterem-se afastados ds sacos cheios de fezes que eram as mulheres terrenas e a esperarem pelas huris do Paraíso. Defendia que os rapazes deviam tocar no seu orgão com lenços de papel aquando na micção, que o mesmo se tratava de um apêndice repugnante. Além disso, como é evidente, considerava as relações sexuais algo tão obsceno que, sob o seu ponto de vista, o corpo tinha de ser purificado após tal acto através do banho.(...)

p. 198

quarta-feira, outubro 11, 2006

Os 32 sinais de excelência num homem

" - Diz-se que é um traço de excelência nos homens o facto de o seu umbigo, a sua voz e a sua respiração serem profundos e as coxas, testa e rosto serem largos e, além disso, de os seus pés, mãos, cantos dos olhos, palato, língua, lábio inferior e unhas se caracterizem por um tom vermelho vivo; segundo os antigos, é de bom augúrio o facto de os dedos e os nós dos mesmos, o cabelo, a pele e os dentes serem finos; os governantes da terra caracterizam-se por um contorno maxilar, olhos, braços e zona intermédia do peito longos; diz-se que a felicidade está assegurada se o peito, os ombros, as unhas das mãos e dos pés, o nariz, o queixo e o pescoço forem erectos e proeminentes; e, finalmente, as costas, as canelas e o membro masculino devem ser bem proporcionados e pequenos - valha-me Deus!"

(p. 183)

Valha-me Deus digo eu também.

terça-feira, outubro 03, 2006

Mapas....

(...) Estando apaixonada por um hindu, ela foi casada, contra a sua vontade, com um primo vindo do Paquistão, mas o casal divorciou-se, pois ela mantinha-se distante dele.(...) Embora ela ainda fosse jovem, ninguém estava disposto a casar com uma rapariga que não era virgem. (...) E os pais só conseguiram encontrar um homem mais velho interessado nela, o qual, segundo parece agora, tem mais três esposas: uma aos olhos da lei britânica e também da lei islãmica e as outras três apenas aos olhos da lei islâmica. Ele deseja um filho, mas as suas esposas só lhe dão raparigas, pelo que ele casou diversas vezes. (...)
Quando a mãe dela descobriu que ela se recusara a consumar o casamento com o seu primo depois de terem partilhado a mesma cama durante quase uma semana, abordou o noivi à parte e disse-lhe num sussurro:
- Viola-a esta noite."

(pag. 142)

Amantes perdidos...

Continuo a leitura de "Mapas para amantes perdidos". A leitura é interessante mas, ao mesmo tempo, de certa forma aterradora. A história passa-se na comunidade paquistanesa residente do Reino Unido, e através de acontecimentos envolvendo meia dúzia de personagens vamo-nos apercebendo das crenças e costumes da religião muçulmana. Kaubab é uma mulher crente, que leva à risca todos os ensinamentos que lhe foram ensinados desde o berço e se vê confrontada com os filhos que, tendo crescido em Inglaterra, pensam de forma diferente , e com o próprio marido que não leva as coisas tão aos extremos, motivo pelo qual ela não perdoa aos pais a escolha que fizeram. É assustador.

sábado, setembro 16, 2006

Um pintassilgo

"Acabei de enterrar um pintassilgo, Shamas-ji. Partiu o pescoço ao embater no vidro daquela janela. Veja se consegue descobri onde.
Caracterizando-se por uma fisionomia delicada, Poorab-ji tem lábios suaves, pescoço comprido e, como grande parte dos homens de meia-idade do Subcontinente, pinta o cabelo de um atemorizador negro puro.
A copa de cada sorveira-brava que cresce ao longo da bacia do rio é perfeitamente esférica, como fogo-de-artifício a explodir no céu.
- Aqui. - Poorab-ji aproxima-se e aponta para o minúsculo entalhe que o bico do pássaro havia deixado no vidro. Do bolso retira, então, um tosco cristal e encaixa-o no vidro, mantendo a palma da mão estendida debaixo do mesmo para a eventualidade de ele cair.
- Encontrei-o no bico do pintassilgo." (pag. 39)

Retomo a leitura de "Mapas para Amantes Perdidos" e deixo aqui este diálogo deslumbrante. O que tem de deslumbrante? Tudo. É da suprema simplicidade que eu acho que a escrita deve ser. Descreve pormenores. Torna o pequeno grande. Grandioso, na verdade.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Mapas para Amantes Perdidos

Vou começar uma nova leitura. "Mapas para Amantes Perdidos" é um livro que tenho a certeza que vou gostar de ler.
Abro o livro e é esta a dedicatória do autor, Nadeem Aslam: "Para meu Pai, que me conselhou no princípio, há tantos anos atrás, a escrever sobre o amor; (....)"
O livro tem 553 páginas e está dividido em estações do ano. A ideia é linda. Eu sempre quis escrever um livro que seguisse o mapa das estações.
Passo os olhos pelo índice. Dentro de cada estação, os capítulos têm nomes lindos, não se limitam a um número. "As Açucenas", "As Diversas Cores do Leite", e "De Quantas Mãos Preciso para Te Declarar o Meu Amor?" são os títulos de alguns dos 23 capítulos. O primeiro: "O Crepúsculo das Raínhas da Noite."
Obrigada, Patrícia. É lindo, este meu presente de anos.

quarta-feira, agosto 02, 2006

As novas bacantes

Levei este livro para férias por comodidade. Porque era pequenino e não ocupava muito espaço na bolsa. E, de lacto, li-o rapidamente, quase não precisei de mais tempo do que as duas ligações aérea entre o Funchal e Lisboa, e vice-versa.
O título original do livro é "Les dames de L'Agave", mas a adaptação do título não está mal, uma vez que a obra de Catherine Clément transporte para a actualidade, algures em França, o mito do Deus Baco e das Bacantes. É interessante e eu gostei de ler.

sábado, junho 17, 2006

Os territórios do Amor

É a primeira vez que leio Mario Delgado Aparaín.
Começa assim:

"Quando o guerreiro Milo Striga ia no quinto ano de prisão por ter conspirado contra os militares do golpe, há já bastante tempo que a mulher conhecera o amor e partira com um poróspero vendedor de livros agro-pecuários, um homem encantador que tinha conhecido quando andava pelos campos de cevada, nos arredores de Mosquitos.
Sabia-se que, em apenas um fim-de-semana daqueles tempos eternos, o desconhecido conseguira conquistá-la falando-lhe longamente da vida fascinante das minhocas californianas, o que bastara para a convencer de que no mundo ainda existem insuspeitados atractivos(....)"
(p. 7)

Encantador. Bem à maneira dos escritores latino-americanos.

segunda-feira, junho 12, 2006

O "Rosa Mexicano"

Já estou no penúltimo capítulo de "Íntimas Suculências", da mexicana Laura Esquivel. Teria prefrido se, em vez de uma série de histórias soltas, o livro fosse um romance. Mas não se pode ter tudo, nunca se pode.
O capítulo que agora início chama-se "O Rosa Mexicano".

"(...)
Somos aquilo que comemos, com quem o comemos e como o comemos. A nacionalidade é determinada, nao pelo lugar onde nos deram à luz, mas pelos sabores e pelos aromas qe nos rodearam desde a infância. A nacionalidade tem a ver com a terar: não com a pobreza da ideia de limites territoriais, mas com algo de mais profundo. Tem a ver com so produtos que essa terra prodigaliza, a sua química e os seus efeitos no nosso organismo. Os compostos biológicos do que comemos penetram o ADN das nossas células, impregnando-o com os sabores mais íntimos. Estes escondem-se nas profundezas do nosso inconsciente, aí onde se encontram as nossas recordações, e permanecem para sempre na nossa memória. (....)"

(p. 144)

sexta-feira, junho 09, 2006

Íntimas Suculências

"Os primeiros anos da minha vida passei-os junto ao fogão da cozinha da minha mãe e da minha avó, vendo como estas sábias mulheres, ao entraremno recinto sagrado da cozinha, se convertiam em sacerdotisas, grandes alquimistas que brincavam com a água, o ar, o fogo e a terra, os quatro elementos que constituem a razão de ser do universo. " (p.15)

Respiro fundo. Estou de novo no meu ambiente. Memórias, cheiros, rituais. Leio "Íntimas Suculências", de Laura Esquivel, a autora de "Como Água para Chocolate".

terça-feira, junho 06, 2006

"Sou um escritor frustrado"

Devo terminar hoje "Sou um escritor frustrado", que comprei na última Feira do Livro do Funchal. A história é interessante mas ao mesmo tempo arrepiante (até rima!).
O personagem principal é um professor universitário, excelente crítico literário (rimou outra vez), mas incapaz de escrever para além dos ensaios e das críticas. Por entre a frustração da falta de criatividade, um relacionamento desastroso e a inveja desmedida pelo sucesso de um colega que tinha tudo o que ele não conseguia, aconteceu uma coincidência, chqamemos-lhe assim.
Uma aluna entrega-lhe o manuscrito de um romance, para que lhe dê uma opinião sobre o seu trabalho. O romance é tão bom que ele decide apoderar-se dele e tornar-se no "escritor" que toda a vida ambicionara ser.
Primeiro regista o romance em seu nome, depois rapta a aluna e feha-a numa cave isolada. Mais tarde mata a mãe da aluna, e pega fgo à casa desta só porque lá se encontravam os únicos três manuscritos do romance, para além do que a jovem lhe tinha confiado.
Confesso que caí na tentação de espreitar o final, mas não digo já. Estou na parte em que começam a exigir-lhe mais escritos. Conversa ocm o editor:
"- Não importa que não seja tão bom, isso é o que interessa menos. Com o êxito do teu primeiro romance, o segundo vender-se-á por si só.
(...)O meu editor advertiu-me que não pensasse sequer em me comprometer com mais alguém, fez umas contas e uns dias mais tarde telefonou-me e disse-me que o problema estava solucionado. estavam tão entusiasmados comigo que queriam conceder-me o próximo Prémio Planeta.
-
Parabéns, conseguiste-o - acrescentou - ,já estás consagrado. Agora, faças o que fizeres, a crítica beijará os teus pése o público comprar-te-á. Com toda esta publicidade venderás como pão. Só tens que começar a escrever.
- Mas como é que me vão dar um prémio poir um romance que ainda não escrevi? - exclamei assustado.
-Parece mentira que me digas isso, tu que estiveste metido neste mundinho. Enfim, v~e-se que és um artista e não um homem de negócios. Aos prémios, o que lhes interessa é pôr na lista autores conhecidos, poder dizer que Muños Molina, Gala, gente que já tem um nome, obteve esse prémio. É politica editorial. O nome vende, enquanto o que é desconhecido......(...)" p.129

Muito interessante, sem dúvida. E frustrante (outra rima!). Em vez de tudo o que poderia escrever a propósito, vou terminar o livro calmamente e contentar-me em ser uma escritora frustrada.

P.S. É verdade, sim. O livro custou (Preço azul) 2,50 euros.

terça-feira, maio 30, 2006

O nome das coisas

Num breve intervalo, daqueles que destino à poesia, leio Sophia de Mello Breyner Andresen. De "O nome das coisas", deixo que a minha alma se encha com um dos poemas mais pequenos. Porque o sentido nada tem a ver com o comprimento.
Dois pequenos versos, cá em baixo, na página 48. Ao alto, o título: A paixão nua.

"A paixão nua e cega dos estios
Atravessou a minha vida como rios"

Lindo.

segunda-feira, maio 29, 2006

Guerreiro da Luz (V)

"O guerreiro da Luz acredita.
Porque crê em milagres, os milagres começam a acontecer. Porque tem a certeza de que o seu pensamento pode mudar a sua vida, a sua vida começa a mudar. Porque está certo de que irá encontrar o amor, esse amor aparece.
De vez em quando, decepciona-se. Às vezes, magoa-se.
E então escuta os comentários: "como é ingénuo!".

Mas o guerreiro sabe que vale o preço. Por cada derrota, tem duas conquistas a seu favor.
Todos s que acreditam sabem disso.

in "Manual do Guerreiro da Luz", Paulo Coelho

sábado, maio 27, 2006

Contos Madeirenses

Tenho andado a ler "Contos Madeirenses", organizados por Nelson Veríssimo e com edição da "Campo das Letras". Leio devagar, ao ritmo que faz as descobertas terem mais sabor. Encontro autores que não conhecia e gosto do que vou lendo.
Maximiliano de Azevedo (1850 - 1911) abre o defile de autores, com um conto intitulado "A alemã". Já terminou? Tão pequeno...volto atrás e conto as páginas: sete, afinal. Sorrio e bendigo a sabedoria da Natureza que não confere a todas as coisas o mesmo ritmo de por nós passarem.
Passa rápido tudo aquilo de que se gosta: uma tarde de sol, uma boa conversa, uma flor oferecida e colocada numa jarra, o tempo que as crianças demoram a adormecer quando se lhes conta uma história de princesas. Um bom livro, ou, neste caso, um bom conto.

terça-feira, maio 23, 2006

"um abissurdo"

"É um abissurdo só se quêrer um homem para ter na cama um côbertor d'orêlha. Mas também é um abissurdo um homem só quêrer mulher para ter na cama colchão quê pisca os olhos. Chega a ser vexaminoso.»

Palavras que o narrador de "Um Amor Feliz" recorda ter ouvido da boca da brsileira Xô, uma das suas antigas amantes, numa viagem a Itália, "em Julho ou Agosto de 1963 ou 1964". p.281

Adorei ler a palavra "abissurdo". Nunca tinha visto uma palavra "brasileira" assim com forma, sem lhe ser roubada toda a sonoridade quando passada da oralidade para a escrita.

"escrever é fazer amor com as palavras"

"«(...)Não sei se contigo acontece o mesmo...Mas, para mim, escrever é primeiramente fazer amor com as palavras e depois...»
«Para mim não: com as frases é que faço amor. As palavras não passam de partes do corpo: os joelhos, os ombros, o peito...»

"Um Amor Feliz", p.271

terça-feira, maio 16, 2006

Um amor feliz (ainda)

Não pensem que as férias me Londres me tornaram malandra para a leitura. Tenho lido e bastante. Continuo a deliciar-me com "Um Amor Feliz", do David Mourão-Ferreira. É quando estou de folga e posso tomar o pequeno almoço sem pressa nenhuma, enquanto folheio vagarosamente o diário, à mesa do café, que leio com mais gosto. Pego no meu livro e faço com ele uma espécie de sobremesa numa refeição que por norma não a inclui. Já passada a fronteira das 200 páginas, deu-me de repente uma certa urgência e hoje já abri o livro mais de dez vezes, ainda que dispusesse para lhe dedicar não mais do que três ou quatro minutos.
"(...) «Ele não estava óptimo nem parecia estar óptimo. Sabia há uns poucos de meses que tinha um cancro nos pulmões.»
«Ah, sim? Mas o que me disseram foi que tinha sido de repente.»
«Até certo ponto será excato. É sempre de repente que se morre. mesmo quando já se está quase morto.»"
p.210

domingo, abril 23, 2006

Londres


Este foi o livro que me fez companhia durante as férias da Páscoa. Todos os meus guias de viagem tornam-se livros de estimação e este também já o é. Adorei todos os locais que conheci, acompanhada deste pequeno guia.

terça-feira, março 07, 2006

Guerreiro da Luz (IV)

"O guerreiro da Luz conhece a importância da intuição.
No meio da batalha, não tem tempo para pensar nos golpes do inimigo - então usa o seu instinto, e obedece ao seu anjo.
Nos tempos de paz, decifra os sinais que Deus lhe envia.
As pessoas dizem: "está louco".
Ou então:"vive num mundo de fantasia".
Ou ainda: "como pode confiar em coisas que não têm lógica?"


Mas o guerreiro sabe que a intuição é o alfabeto de Deus, e continua a escutar o vento e a falar com as estrelas."

(p. 63)

Guerreiro da Luz (III)

"Para o guerreiro, não existe amor impossível.
Ele não se deixa intimidar pelo silêncio, pela indiferença, ou pela rejeição. Sabe que - atrás da máscara de gelo que as pessoas usam - existe um coração de fogo.
Por isso, o guerreiro arrisca mais do que os outros. Busca, incessantemente, o amor de alguém - mesmo que isso signifique escutar muitas vezes a palavra «não», voltar para casa derrotado, sentir-se rejeitado no corpo e na alma.


Um guerreiro não se deixa assustar quando busca o que precisa. Sem amor, ele não é nada.

Guerreiro da Luz (II)

"Um guerreiro da luz tem sempre uma segunda oportunidade na vida.
Como todos os outros homens e mulheres, ele não nasceu a saber manejar a sua espada; errou muitas vezes antes de descobrir a sua Lenda Pessoal.
Nenhum guerreiro pode sentar-se em torno da fogueira, e dizer aos outros: «agi sempre correctamente».Quem afirma isto está a mentir, e ainda não aprendeu a conhecer-se a si mesmo. O verdadeiro guerreiro da luz já cometeu injustiças no passado.
Mas, no decorrer da jornada, percebe que as pessoas com quem agiu erradamente voltam sempre a cruzar-se com ele.

É a sua oportunidade de corrigir o mal que causou. Ele utiliza-a sempre, sem hesitar."

(p.98)

Manual do Guerreiro da Luz



"Um guerreiro da luz faz sempre algo fora do comum.
Pode dançar na rua enquanto caminha para o trabalho, olhar nos olhos de um desconhecido e falar de amor à primeira vista, defender uma ideia que pode parecer ridícula. O guerreiro da luz permite-se tais dias.
Ele não tem me do de chorar mágoas antigas, ou alegrar-se com novas descobertas. Quando sente que chegou a hora, larga tudo e parte para a sua aventura tão sonhada. Quando entende que está no limite da sua resistência, sai do combate, sem se culpar por ter feito uma ou duas loucuras inesperadas.

Um guerreiro não passa os seus dias tentando representar o papel que os outros escolheram para ele. "

(p.29)

"Manual do Guerreiro da luz", Paulo Coelho

Protesto e Canto de Atena


Apetece-me uma daquelas "pausas para poesia" de que já antes falei. Vou até à estante e, sem demora, intuitivamente, retiro o livro "Protesto e Canto de Atena", de Irene Lucília Andrade. Abro-o algures, confiando novamente na intuição, e leio, em silêncio, este poema:

Quando Deus criou os pássaros
disse: ide e voai
e aos homens disse:
ide e dominai as asas

mas os humanos não seriam
perfeitos como as aves
nunca souberam dar às asas
a correcta função da liberdade

construíram gaiolas
para amar os pássaros
e amá-los
foi essa perversa e patética forma
de os ter encarcerados

Deus
dá-me outro dom de imaginar
que não seja
o de reigir palácios gradeados
desamparados simulacros de ninhos
onde o rasgo do olhar se quebra
e a vontade endurece
como os ossos.

(p. 46)


Leio outra vez. Mais uma ainda. E volto a colocar, no seu lugar exacto, "Protesto e Canto de Atena". Ainda bem que acontecem destes acasos: encontrarmos exactamente aquilo de que precisávamos, para sermos um pouco Felizes.

sábado, março 04, 2006

Perturbação

A certa altura, o narrador explica tratar-se de um Amor Feliz porque é um Amor sem história. Ou será ao contrário?
A verdade é que a história deste Amor é feita assim, de pequenas descrições do que se repete quase todos os dias, nesse encontro de amantes, invariavelmente à mesma hora (com um único atraso dela e eu já estou na página 83).
Descrições de pequenos gestos, com algumas falas pelo meio e mais algumas considerações.

"Mas compreendo, num relâmpago, o que até aqui não tinha compreendido: que a sua insegurança, para além da sua beleza, é o que supremamente me perturba; e que essa mesma insegurança é o que de dia para dia a vai tornando mais arrebatada, como se assim pretendesse compensar-se ou compensar-me, de dia para dia inventando tudo, reinventando tudo, aderindo a tudo, excedendo tudo, sempre que voltamos a ser, em cima desse divã (cada vez, aliás, com maior frequência), uma renovada praia submersa, uma renascida árvore na horizontal."

(p. 66)

quinta-feira, março 02, 2006

Mais um pouco de Amor Feliz

Continuo, com vagar, a ler "Um Amor Feliz." Impossível ler apressadamente. Reparem na beleza das descrições:

"Trazia um vestido, verde ou azul, muito simples, que aprecia feito de uma espécie de malha de seda e cuja saia écasée, largamente ondulando, a cada passo, um pouco abaixo dos joelhos, mais ainda acentuava o aspecto hierático e pungente da sua marcha, que dir-se-ia, nessa manhã de Sol, a marcha ritual de uma deusa triste."

(p.59)

domingo, fevereiro 26, 2006

O começo....

(....)

"Pego-lhe nas mãos, puxo-a ligeiramente para mim. Com os sapatos que hoje traz calçados, é um tudo-nada mais lata do que eu: mas ficamos logo com os rostos encostados. A seguir, afasta-se; e murmura, olhando-me bem de frente:
«Não era por isdto. Não, não era por isto. Eu acho que não era por isto.» Depois, cavando-se-lhe um vincozinho de dúvida entre as sobrancelhas: «É como se diz? Ou para isto?»
«Depende. Tanto faz.»

(p.34)

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Um Amor Feliz


Descansem os leitores possivelmente preocupados com a minha estranha fixação pelo Gabriel García Marques. Comprei "Uma Amor Feliz", do David Mourão-Ferreira, e para já estou feliz com a minha escolha.


"Nem sei porque me apetece contar-lhe a si , precisamente a si, esta vulgaríssima história de um amor feliz.
Mentira! Claro que sei. Foi justamente você quem no começo deste ano me revelou um segredo de que eu nunca tinha chegado a suspeitar. E me confiou mesmo a fórmula de certas circunstâncias indispensáveis à existência de um «amor feliz»:
«Uma pessoa casada....só com outra pessoa casada.»
(p.16)

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Doze Contos Peregrinos



Quase sem me aperceber estava de novo a ler Gabriel García Márquez. Gostei de todos os contos. Todos têm algo de surpreendente, que nos apanha desprevenidos no final da leitura. É este tipo de contos que eu gostarai de saber escrever.