sábado, setembro 16, 2006

Um pintassilgo

"Acabei de enterrar um pintassilgo, Shamas-ji. Partiu o pescoço ao embater no vidro daquela janela. Veja se consegue descobri onde.
Caracterizando-se por uma fisionomia delicada, Poorab-ji tem lábios suaves, pescoço comprido e, como grande parte dos homens de meia-idade do Subcontinente, pinta o cabelo de um atemorizador negro puro.
A copa de cada sorveira-brava que cresce ao longo da bacia do rio é perfeitamente esférica, como fogo-de-artifício a explodir no céu.
- Aqui. - Poorab-ji aproxima-se e aponta para o minúsculo entalhe que o bico do pássaro havia deixado no vidro. Do bolso retira, então, um tosco cristal e encaixa-o no vidro, mantendo a palma da mão estendida debaixo do mesmo para a eventualidade de ele cair.
- Encontrei-o no bico do pintassilgo." (pag. 39)

Retomo a leitura de "Mapas para Amantes Perdidos" e deixo aqui este diálogo deslumbrante. O que tem de deslumbrante? Tudo. É da suprema simplicidade que eu acho que a escrita deve ser. Descreve pormenores. Torna o pequeno grande. Grandioso, na verdade.