domingo, março 23, 2008

Um pouco de "Intuição"

- "Das sombras irreais da noite regressa a vida real que outrora conhecemos" - lia - "temos de recomeçar onde parámos, e eis que acima de nós se agita a terrível necessidade de continuar a despender energia na mesma fatigante sucessão de hábitos estereotipados ou um incontrolável anseio, talvez, de numa manhã abrir os olhos para um mundo que durante a noite foi remodelado para nosso deleite, um mundo no qual as coisas teriam novas formas e cores, e mudar..."
Fechou ruidosamente O Retrato de Dorian Grey, abriu a centrigugadora e retirou os seus tubos de ensaio coloridos. Como era estranho ficar-se cansado do mundo por falta de mudança. Por si, Feng sempre gostara de se levantar pela manhã e envcontrar tudo do mesmo modo como o deixara. Sempre apreciara em particular o facto de os objectos, por mais impacientemente que os procurássemos, não se poderem levantar e moverem-se espontaneamente de um lado para o outro. Havia uma tal satisfação no facto de os nossos livros e chaves estarem frequentemente no mesmo sítio onde os deixávamos. Perguntou-se, rindo de si mesmo, como lhe era característico, se não se dedicava a um trabalho de bancada, pelo facto de apreciar esse tipo de ordem mundana. Ele nunca veria encanto na investigação. (....) pag. 362

Acabei o livro que decidi ler com base talvez no critério mais estúpido para se começar a ler um livro: o de o termos à mão, não por nossa escolha, mas porque calhou de vir ter connosco, sem que o desejássemos ou quiséssemos ou sequer tivéssemos a mínima curiosidade. Mas tudo tem um lado positivo. Aprendi que esta não é a forma de escolher, seja em que momento for, ler seja o que for. Aprendi que não voltarei a fazê-lo.
Não, o livro não está mal escrito. Nem mal escrito nem mal traduzido. O romance está bem encadeado, como devem estar os romances, está. Mas este livro não tem absolutamente nada que me fale à alma. E isso sim. Isso é algo que todos os livros devem ter. Uma linguagem oculta que comunique com a nossa alma.