sexta-feira, dezembro 02, 2005

Agradece o Beijo (3)

Acabei. Talvez por desejar tanto começar a ler outro livro. O certo é que acabei e não me ficaram na memória muito mais partes que me apetecesse salvar. Volto a folhear o livro, na tentativa de encontrar alguma que me tivesse escapado. Demoro os olhos na página 247, mas as frases continuam a não me dizer grande coisa. Arrepio-me quando leio: "Uma mulher entra no carro que a transporta a sua casa. Uma casa onde lhe começa a faltar o ar e o sol não entra. Sobre ela, imagina aesvoaçar um bando de abutres que farejam a morte lenta do seu amor."
O livro começa no ano zero da vida de uma criança, quando esta está ainda dentro do ventre materno, e termina no ano 45, no momento em que Luísa (essa criança) assiste à morte da mãe. Os capítulos são contados por anos: ano um, ano dois, ano três, até dar uns saltos e chegar ao 45.
A história passa-se durante a ditadura de Salazar e tenta retratar a forma como a sociedade se estruturava à volta de determinados valores. Uma sociedade em que as mulheres não contavam, os maridos e os homens em geral dominavam tudo, e por detrás da aparência de poder e respeito se escondiam vícios como a pedofilia.
O que mais sobressai é a forma como as mulheres, as crianças e outros seres indefesos, como o caso do rapaz que queria mudar de sexo, são obrigados a viver no medo, incompreendidos por quase todos os outros. Mas a forma como tudo é descrito não me atriu. O cenário muda de repente sem se saber, até metade do livro, qual a relação entre as personagens, sem nenhum aviso, muda-se de um narrador para outro. Tudo bem, seria aceitável se eu não tivesse embirrado com o livro no momento em que comecei a lê-lo.
Talvez o verdadeiro defeito esteja em mim, que não fiz uma pausa (e deveria ter feito) quando acabei de ler o fabuloso Gabriel García Marquez. Devia ter parado. ficado o resto do dia sem ler mais nada e talvez o dia seguinte e quem saber ainda mais um. Vou tentar não repetir o erro.
Luísa despede-se de Constança, junto à sua cama do Hospital: "O tempo teve o bom gosto de lhe amenizar os traços e de a tornar mais bonita. Nunca os seus sorrisos se transformaram em esgares ou as rusgas em sulcos de desdém,nem a boca num traço de indiferença. É esta a imagem que guardarei para sempre, até ao dia em que, quem sabe, o meu filho me assista também nesta viagem.
Vá em paz mãe. Deixe-se embalar na nossa canção. Ainda se lembra." (p.309)

2 Comments:

At 25 abril, 2007 19:14, Anonymous Anónimo said...

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At 09 fevereiro, 2008 00:41, Anonymous Anónimo said...

Já li este livro e devo confessar que preferi "Os Sinais do Medo" da mesma autora.
Mas também gostei deste livro, penso que uma pessoa que pratique muita auto-reflexão consegue extrair muito conhecimento e muita verdade das palavras da autora.
A princípio o livro não despertou em mim grande interesse mas com o avançar da história e o culminar de acontecimentos, a história revelou-se-me muito interessante.
A minha opinião é que o livro contém uma história realmente agradável para um leitor que se afaste de preconceitos e aceite novos pontos de vista.
Para alguém que esteja a pensar ler o livro, aconselho uma boa dose de paciência e compreensão e que leia o livro calmamente, tal como o tempo nos é sugerido no desenvolvimento da história.

Parabéns pelo blog...

 

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