A dívida do leite
"(....) Filhos e filhas, ao saberem que a mãe está às portas da morte, devem colocar-se imediatamente a seu lado para lhe pedirem que considere saldada a dívida que têm para com ela, a dívida que contrairam ao beberem o seu leite. É um privilégio e um direito que ela tem. Não há nada mais terrível para alguém que acabar de perder a mãe durante a sua ausência do que saber que ninguém lhe pergunatra se ela lhe perdoava a dívida do leite; deve-se implorar-lhe que lhe retire este enorme peso da alma. Não imagino os meus filhos a tomarem tal atitude quando a minha hora estiver próxima. Talvez Alá esteja a castigar-nos por termos deixado os nossos próprios pais no Paquistão e vindo viver para Inglaterra há tantos anos atrás."
(p. 226)
sacos cheios de fezes
(....)
"O clérigo da mesquita aconselhara os rapazes a m
anterem-se afastados ds
sacos cheios de fezes que eram as mulheres terrenas e a esperarem pelas huris do Paraíso. Defendia que os rapazes deviam tocar no seu orgão com lenços de papel aquando na micção, que o mesmo se tratava de um apêndice repugnante. Além disso, como é evidente, considerava as relações sexuais algo tão obsceno que, sob o seu ponto de vista, o corpo tinha de ser purificado após tal acto através do banho.(...)
p. 198
Os 32 sinais de excelência num homem
" - Diz-se que é um traço de excelência nos homens o facto de o seu umbigo, a sua voz e a sua respiração serem profundos e as coxas, testa e rosto serem largos e, além disso, de os seus pés, mãos, cantos dos olhos, palato, língua, lábio inferior e unhas se caracterizem por um tom vermelho vivo; segundo os antigos, é de bom augúrio o facto de os dedos e os nós dos mesmos, o cabelo, a pele e os dentes serem finos; os governantes da terra caracterizam-se por um contorno maxilar, olhos, braços e zona intermédia do peito longos; diz-se que a felicidade está assegurada se o peito, os ombros, as unhas das mãos e dos pés, o nariz, o queixo e o pescoço forem erectos e proeminentes; e, finalmente, as costas, as canelas e o membro masculino devem ser bem proporcionados e pequenos - valha-me Deus!"
(p. 183)
Valha-me Deus digo eu também.
Mapas....
(...) Estando apaixonada por um hindu, ela foi casada, contra a sua vontade, com um primo vindo do Paquistão, mas o casal divorciou-se, pois ela mantinha-se distante dele.(...) Embora ela ainda fosse jovem, ninguém estava disposto a casar com uma rapariga que não era virgem. (...) E os pais só conseguiram encontrar um homem mais velho interessado nela, o qual, segundo parece agora, tem mais três esposas: uma aos olhos da lei britânica e também da lei islãmica e as outras três apenas aos olhos da lei islâmica. Ele deseja um filho, mas as suas esposas só lhe dão raparigas, pelo que ele casou diversas vezes. (...)
Quando a mãe dela descobriu que ela se recusara a consumar o casamento com o seu primo depois de terem partilhado a mesma cama durante quase uma semana, abordou o noivi à parte e disse-lhe num sussurro:
- Viola-a esta noite."
(pag. 142)
Amantes perdidos...
Continuo a leitura de "Mapas para amantes perdidos". A leitura é interessante mas, ao mesmo tempo, de certa forma aterradora. A história passa-se na comunidade paquistanesa residente do Reino Unido, e através de acontecimentos envolvendo meia dúzia de personagens vamo-nos apercebendo das crenças e costumes da religião muçulmana. Kaubab é uma mulher crente, que leva à risca todos os ensinamentos que lhe foram ensinados desde o berço e se vê confrontada com os filhos que, tendo crescido em Inglaterra, pensam de forma diferente , e com o próprio marido que não leva as coisas tão aos extremos, motivo pelo qual ela não perdoa aos pais a escolha que fizeram. É assustador.