sábado, junho 17, 2006

Os territórios do Amor

É a primeira vez que leio Mario Delgado Aparaín.
Começa assim:

"Quando o guerreiro Milo Striga ia no quinto ano de prisão por ter conspirado contra os militares do golpe, há já bastante tempo que a mulher conhecera o amor e partira com um poróspero vendedor de livros agro-pecuários, um homem encantador que tinha conhecido quando andava pelos campos de cevada, nos arredores de Mosquitos.
Sabia-se que, em apenas um fim-de-semana daqueles tempos eternos, o desconhecido conseguira conquistá-la falando-lhe longamente da vida fascinante das minhocas californianas, o que bastara para a convencer de que no mundo ainda existem insuspeitados atractivos(....)"
(p. 7)

Encantador. Bem à maneira dos escritores latino-americanos.

segunda-feira, junho 12, 2006

O "Rosa Mexicano"

Já estou no penúltimo capítulo de "Íntimas Suculências", da mexicana Laura Esquivel. Teria prefrido se, em vez de uma série de histórias soltas, o livro fosse um romance. Mas não se pode ter tudo, nunca se pode.
O capítulo que agora início chama-se "O Rosa Mexicano".

"(...)
Somos aquilo que comemos, com quem o comemos e como o comemos. A nacionalidade é determinada, nao pelo lugar onde nos deram à luz, mas pelos sabores e pelos aromas qe nos rodearam desde a infância. A nacionalidade tem a ver com a terar: não com a pobreza da ideia de limites territoriais, mas com algo de mais profundo. Tem a ver com so produtos que essa terra prodigaliza, a sua química e os seus efeitos no nosso organismo. Os compostos biológicos do que comemos penetram o ADN das nossas células, impregnando-o com os sabores mais íntimos. Estes escondem-se nas profundezas do nosso inconsciente, aí onde se encontram as nossas recordações, e permanecem para sempre na nossa memória. (....)"

(p. 144)

sexta-feira, junho 09, 2006

Íntimas Suculências

"Os primeiros anos da minha vida passei-os junto ao fogão da cozinha da minha mãe e da minha avó, vendo como estas sábias mulheres, ao entraremno recinto sagrado da cozinha, se convertiam em sacerdotisas, grandes alquimistas que brincavam com a água, o ar, o fogo e a terra, os quatro elementos que constituem a razão de ser do universo. " (p.15)

Respiro fundo. Estou de novo no meu ambiente. Memórias, cheiros, rituais. Leio "Íntimas Suculências", de Laura Esquivel, a autora de "Como Água para Chocolate".

terça-feira, junho 06, 2006

"Sou um escritor frustrado"

Devo terminar hoje "Sou um escritor frustrado", que comprei na última Feira do Livro do Funchal. A história é interessante mas ao mesmo tempo arrepiante (até rima!).
O personagem principal é um professor universitário, excelente crítico literário (rimou outra vez), mas incapaz de escrever para além dos ensaios e das críticas. Por entre a frustração da falta de criatividade, um relacionamento desastroso e a inveja desmedida pelo sucesso de um colega que tinha tudo o que ele não conseguia, aconteceu uma coincidência, chqamemos-lhe assim.
Uma aluna entrega-lhe o manuscrito de um romance, para que lhe dê uma opinião sobre o seu trabalho. O romance é tão bom que ele decide apoderar-se dele e tornar-se no "escritor" que toda a vida ambicionara ser.
Primeiro regista o romance em seu nome, depois rapta a aluna e feha-a numa cave isolada. Mais tarde mata a mãe da aluna, e pega fgo à casa desta só porque lá se encontravam os únicos três manuscritos do romance, para além do que a jovem lhe tinha confiado.
Confesso que caí na tentação de espreitar o final, mas não digo já. Estou na parte em que começam a exigir-lhe mais escritos. Conversa ocm o editor:
"- Não importa que não seja tão bom, isso é o que interessa menos. Com o êxito do teu primeiro romance, o segundo vender-se-á por si só.
(...)O meu editor advertiu-me que não pensasse sequer em me comprometer com mais alguém, fez umas contas e uns dias mais tarde telefonou-me e disse-me que o problema estava solucionado. estavam tão entusiasmados comigo que queriam conceder-me o próximo Prémio Planeta.
-
Parabéns, conseguiste-o - acrescentou - ,já estás consagrado. Agora, faças o que fizeres, a crítica beijará os teus pése o público comprar-te-á. Com toda esta publicidade venderás como pão. Só tens que começar a escrever.
- Mas como é que me vão dar um prémio poir um romance que ainda não escrevi? - exclamei assustado.
-Parece mentira que me digas isso, tu que estiveste metido neste mundinho. Enfim, v~e-se que és um artista e não um homem de negócios. Aos prémios, o que lhes interessa é pôr na lista autores conhecidos, poder dizer que Muños Molina, Gala, gente que já tem um nome, obteve esse prémio. É politica editorial. O nome vende, enquanto o que é desconhecido......(...)" p.129

Muito interessante, sem dúvida. E frustrante (outra rima!). Em vez de tudo o que poderia escrever a propósito, vou terminar o livro calmamente e contentar-me em ser uma escritora frustrada.

P.S. É verdade, sim. O livro custou (Preço azul) 2,50 euros.