terça-feira, março 07, 2006

Guerreiro da Luz (IV)

"O guerreiro da Luz conhece a importância da intuição.
No meio da batalha, não tem tempo para pensar nos golpes do inimigo - então usa o seu instinto, e obedece ao seu anjo.
Nos tempos de paz, decifra os sinais que Deus lhe envia.
As pessoas dizem: "está louco".
Ou então:"vive num mundo de fantasia".
Ou ainda: "como pode confiar em coisas que não têm lógica?"


Mas o guerreiro sabe que a intuição é o alfabeto de Deus, e continua a escutar o vento e a falar com as estrelas."

(p. 63)

Guerreiro da Luz (III)

"Para o guerreiro, não existe amor impossível.
Ele não se deixa intimidar pelo silêncio, pela indiferença, ou pela rejeição. Sabe que - atrás da máscara de gelo que as pessoas usam - existe um coração de fogo.
Por isso, o guerreiro arrisca mais do que os outros. Busca, incessantemente, o amor de alguém - mesmo que isso signifique escutar muitas vezes a palavra «não», voltar para casa derrotado, sentir-se rejeitado no corpo e na alma.


Um guerreiro não se deixa assustar quando busca o que precisa. Sem amor, ele não é nada.

Guerreiro da Luz (II)

"Um guerreiro da luz tem sempre uma segunda oportunidade na vida.
Como todos os outros homens e mulheres, ele não nasceu a saber manejar a sua espada; errou muitas vezes antes de descobrir a sua Lenda Pessoal.
Nenhum guerreiro pode sentar-se em torno da fogueira, e dizer aos outros: «agi sempre correctamente».Quem afirma isto está a mentir, e ainda não aprendeu a conhecer-se a si mesmo. O verdadeiro guerreiro da luz já cometeu injustiças no passado.
Mas, no decorrer da jornada, percebe que as pessoas com quem agiu erradamente voltam sempre a cruzar-se com ele.

É a sua oportunidade de corrigir o mal que causou. Ele utiliza-a sempre, sem hesitar."

(p.98)

Manual do Guerreiro da Luz



"Um guerreiro da luz faz sempre algo fora do comum.
Pode dançar na rua enquanto caminha para o trabalho, olhar nos olhos de um desconhecido e falar de amor à primeira vista, defender uma ideia que pode parecer ridícula. O guerreiro da luz permite-se tais dias.
Ele não tem me do de chorar mágoas antigas, ou alegrar-se com novas descobertas. Quando sente que chegou a hora, larga tudo e parte para a sua aventura tão sonhada. Quando entende que está no limite da sua resistência, sai do combate, sem se culpar por ter feito uma ou duas loucuras inesperadas.

Um guerreiro não passa os seus dias tentando representar o papel que os outros escolheram para ele. "

(p.29)

"Manual do Guerreiro da luz", Paulo Coelho

Protesto e Canto de Atena


Apetece-me uma daquelas "pausas para poesia" de que já antes falei. Vou até à estante e, sem demora, intuitivamente, retiro o livro "Protesto e Canto de Atena", de Irene Lucília Andrade. Abro-o algures, confiando novamente na intuição, e leio, em silêncio, este poema:

Quando Deus criou os pássaros
disse: ide e voai
e aos homens disse:
ide e dominai as asas

mas os humanos não seriam
perfeitos como as aves
nunca souberam dar às asas
a correcta função da liberdade

construíram gaiolas
para amar os pássaros
e amá-los
foi essa perversa e patética forma
de os ter encarcerados

Deus
dá-me outro dom de imaginar
que não seja
o de reigir palácios gradeados
desamparados simulacros de ninhos
onde o rasgo do olhar se quebra
e a vontade endurece
como os ossos.

(p. 46)


Leio outra vez. Mais uma ainda. E volto a colocar, no seu lugar exacto, "Protesto e Canto de Atena". Ainda bem que acontecem destes acasos: encontrarmos exactamente aquilo de que precisávamos, para sermos um pouco Felizes.

sábado, março 04, 2006

Perturbação

A certa altura, o narrador explica tratar-se de um Amor Feliz porque é um Amor sem história. Ou será ao contrário?
A verdade é que a história deste Amor é feita assim, de pequenas descrições do que se repete quase todos os dias, nesse encontro de amantes, invariavelmente à mesma hora (com um único atraso dela e eu já estou na página 83).
Descrições de pequenos gestos, com algumas falas pelo meio e mais algumas considerações.

"Mas compreendo, num relâmpago, o que até aqui não tinha compreendido: que a sua insegurança, para além da sua beleza, é o que supremamente me perturba; e que essa mesma insegurança é o que de dia para dia a vai tornando mais arrebatada, como se assim pretendesse compensar-se ou compensar-me, de dia para dia inventando tudo, reinventando tudo, aderindo a tudo, excedendo tudo, sempre que voltamos a ser, em cima desse divã (cada vez, aliás, com maior frequência), uma renovada praia submersa, uma renascida árvore na horizontal."

(p. 66)

quinta-feira, março 02, 2006

Mais um pouco de Amor Feliz

Continuo, com vagar, a ler "Um Amor Feliz." Impossível ler apressadamente. Reparem na beleza das descrições:

"Trazia um vestido, verde ou azul, muito simples, que aprecia feito de uma espécie de malha de seda e cuja saia écasée, largamente ondulando, a cada passo, um pouco abaixo dos joelhos, mais ainda acentuava o aspecto hierático e pungente da sua marcha, que dir-se-ia, nessa manhã de Sol, a marcha ritual de uma deusa triste."

(p.59)