terça-feira, maio 30, 2006

O nome das coisas

Num breve intervalo, daqueles que destino à poesia, leio Sophia de Mello Breyner Andresen. De "O nome das coisas", deixo que a minha alma se encha com um dos poemas mais pequenos. Porque o sentido nada tem a ver com o comprimento.
Dois pequenos versos, cá em baixo, na página 48. Ao alto, o título: A paixão nua.

"A paixão nua e cega dos estios
Atravessou a minha vida como rios"

Lindo.

segunda-feira, maio 29, 2006

Guerreiro da Luz (V)

"O guerreiro da Luz acredita.
Porque crê em milagres, os milagres começam a acontecer. Porque tem a certeza de que o seu pensamento pode mudar a sua vida, a sua vida começa a mudar. Porque está certo de que irá encontrar o amor, esse amor aparece.
De vez em quando, decepciona-se. Às vezes, magoa-se.
E então escuta os comentários: "como é ingénuo!".

Mas o guerreiro sabe que vale o preço. Por cada derrota, tem duas conquistas a seu favor.
Todos s que acreditam sabem disso.

in "Manual do Guerreiro da Luz", Paulo Coelho

sábado, maio 27, 2006

Contos Madeirenses

Tenho andado a ler "Contos Madeirenses", organizados por Nelson Veríssimo e com edição da "Campo das Letras". Leio devagar, ao ritmo que faz as descobertas terem mais sabor. Encontro autores que não conhecia e gosto do que vou lendo.
Maximiliano de Azevedo (1850 - 1911) abre o defile de autores, com um conto intitulado "A alemã". Já terminou? Tão pequeno...volto atrás e conto as páginas: sete, afinal. Sorrio e bendigo a sabedoria da Natureza que não confere a todas as coisas o mesmo ritmo de por nós passarem.
Passa rápido tudo aquilo de que se gosta: uma tarde de sol, uma boa conversa, uma flor oferecida e colocada numa jarra, o tempo que as crianças demoram a adormecer quando se lhes conta uma história de princesas. Um bom livro, ou, neste caso, um bom conto.

terça-feira, maio 23, 2006

"um abissurdo"

"É um abissurdo só se quêrer um homem para ter na cama um côbertor d'orêlha. Mas também é um abissurdo um homem só quêrer mulher para ter na cama colchão quê pisca os olhos. Chega a ser vexaminoso.»

Palavras que o narrador de "Um Amor Feliz" recorda ter ouvido da boca da brsileira Xô, uma das suas antigas amantes, numa viagem a Itália, "em Julho ou Agosto de 1963 ou 1964". p.281

Adorei ler a palavra "abissurdo". Nunca tinha visto uma palavra "brasileira" assim com forma, sem lhe ser roubada toda a sonoridade quando passada da oralidade para a escrita.

"escrever é fazer amor com as palavras"

"«(...)Não sei se contigo acontece o mesmo...Mas, para mim, escrever é primeiramente fazer amor com as palavras e depois...»
«Para mim não: com as frases é que faço amor. As palavras não passam de partes do corpo: os joelhos, os ombros, o peito...»

"Um Amor Feliz", p.271

terça-feira, maio 16, 2006

Um amor feliz (ainda)

Não pensem que as férias me Londres me tornaram malandra para a leitura. Tenho lido e bastante. Continuo a deliciar-me com "Um Amor Feliz", do David Mourão-Ferreira. É quando estou de folga e posso tomar o pequeno almoço sem pressa nenhuma, enquanto folheio vagarosamente o diário, à mesa do café, que leio com mais gosto. Pego no meu livro e faço com ele uma espécie de sobremesa numa refeição que por norma não a inclui. Já passada a fronteira das 200 páginas, deu-me de repente uma certa urgência e hoje já abri o livro mais de dez vezes, ainda que dispusesse para lhe dedicar não mais do que três ou quatro minutos.
"(...) «Ele não estava óptimo nem parecia estar óptimo. Sabia há uns poucos de meses que tinha um cancro nos pulmões.»
«Ah, sim? Mas o que me disseram foi que tinha sido de repente.»
«Até certo ponto será excato. É sempre de repente que se morre. mesmo quando já se está quase morto.»"
p.210