fazer nevar...
	 
    
    
     
    "Chamo-me Michael, disse ele.
  E ela pensou, não é um anjo caído, é um dos outros, de qualquer forma é muito velho, quase tanto como eu.
  Era uma das ideias estranhas que tinha às vezes, a de que existia desde sempre, e era capaz de fazer chover, e fazer nevar, era uma dessas ideias que tinha muito tarde, quando começava a ficar com sono, e que no fundo só queria dizer que ela escrevia livros, e só pode escrever livros quem existe há muito tempo e ainda se lembra, pelo menos vagamente." Pag.36
Leio o livro quase de um fôlego só, sem conseguir respirar, sentindo também que existo há muito tempo, e de que me lembro. Vagamente.
        
    
   
  
  
  
  
  
 
  
    
  
  
  
  
  
     
    
    
	 
	 no nevoeiro e na chuva
	 
    
    
     
    "E quando a solidão se tornava insuportável, ele apareceu. Na verdade fui eu que o procurei, sem saber o que fazia, no nevoeiro e na chuva, perto do mar. Há muito tempo, quando o Inverno começava." Pag. 15
        
    
   
  
  
  
  
  
 
  
    
  
  
  
     
    
    
	 
	 "A Neve", Ana Teresa Pereira
	 
    
    
     
    
então delicio-me na escolha de um livro. escolho ler um livro pelos melhores motivos. folheio-o e escolho-o com a alma.
        
    
   
  
  
  
  
  
 
  
    
  
  
  
     
    
    
	 
	 Um pouco de "Intuição"
	 
    
    
     
    - "Das sombras irreais da noite regressa a vida real que outrora conhecemos" - lia - "temos de recomeçar onde parámos, e eis que acima de nós se agita a terrível necessidade de continuar a despender energia na mesma fatigante sucessão de hábitos estereotipados ou um incontrolável anseio, talvez, de numa manhã abrir os olhos para um mundo que durante a noite foi remodelado para nosso deleite, um mundo no qual as coisas teriam novas formas e cores, e mudar..."
   Fechou ruidosamente 
O Retrato de Dorian Grey, abriu a centrigugadora e retirou os seus tubos de ensaio coloridos. Como era estranho ficar-se cansado do mundo por falta de mudança. Por si, Feng sempre gostara de se levantar pela manhã e envcontrar tudo do mesmo modo como o deixara. Sempre apreciara em particular o facto de os objectos, por mais impacientemente que os procurássemos, não se poderem levantar e moverem-se espontaneamente de um lado para o outro. Havia uma tal satisfação no facto de os nossos livros e chaves estarem frequentemente no mesmo sítio onde os deixávamos. Perguntou-se, rindo de si mesmo, como lhe era característico, se não se dedicava a um trabalho de bancada, pelo facto de apreciar esse tipo de ordem mundana. Ele nunca veria encanto na investigação. (....) pag. 362
Acabei o livro que decidi ler com base talvez no critério mais estúpido para se começar a ler um livro: o de o termos à mão, não por nossa escolha, mas porque calhou de vir ter connosco, sem que o desejássemos ou quiséssemos ou sequer tivéssemos a mínima curiosidade. Mas tudo tem um lado positivo. Aprendi que esta não é a forma de escolher, seja em que momento for, ler seja o que for. Aprendi que não voltarei a fazê-lo.
Não, o livro não está mal escrito. Nem mal escrito nem mal traduzido. O romance está bem encadeado, como devem estar os romances, está. Mas este livro não tem absolutamente nada que me fale à alma. E isso sim. Isso é algo que todos os livros devem ter. Uma linguagem oculta que comunique com a nossa alma.
        
    
   
  
  
  
  
  
 
  
    
  
  
  
  
  
     
    
    
	 
	 Intuição, Allegra Goodman
	 
    
    
     
    
Eis a minha actual leitura. Um livro que me veio parar às mãos por mero acaso e que decidi abrir e começar a ler também por mero acaso. E assim, de acaso em acaso, cheguei à página 153.